
Último desejo de um fósforo antes de ser riscado na caixa
Apagão. Terceira vez na mesma semana. É nessas horas que nos damos conta de como somos dependentes da energia. Sem luz, sem televisão, sem microondas, sem água quente e sem telefone.
Só me resta acender uma vela. Calma aí, onde que eu estou? Sala. A porta da cozinha fica perto da mesa, e a mesa está ali. Em qual armário eu guardo as velas? Esqueci da quina do armário. Bati a cabeça. Era só o que me faltava. O que esses caras querem afinal? Se eu caísse duro aqui não teria como nem quem para ligar para o socorro. Achei as velas. Fósforos? Que dor na cabeça. Achei os fósforos. Não consigo saber se o fósforo está usado. Deixo aquela caixa de lado e pego uma fechada. Estou há poucos minutos nesse escuro, e já estou ficando estressado. Imagine este fósforo então? Nunca sai do escuro, e quando sai... Sai para morrer, nunca mais voltar.
Quantos fósforos morrem por apagão? Se desconsiderarmos aqueles que usam isqueiro, todos têm pelo menos uma caixa de fósforo.
Fósforos são tão comuns... são um disperdício. De que madeira são feitos? Fósforos contribuem para o desmatamento! Esses apagões são propositais, para racionar energia. Quanto mais apagões, menos energia, mais fósforos, mais desmatamento!
Não vou contribuir , vou ficar no escuro. Mas... eu preciso... vou acender só uma vela, vou gastar só um fósforo.Peguei a vela. Peguei o fósforo na mão. O que será que um fósforo gostaria antes de sua morte? Fiquei olhando aquele pedacinho insignificante de madeira. Aposto que ele pediria a luz de volta, assim ele não seria mais necessário. Fiquei esperando algo acontecer, como se o desejo dele pudesse se realizar. Olhei em volta, fechei os olhos, abri. Nada. Só posso estar ficando louco, insano.
Risquei o fósforo. Não acendeu. Antes de riscar a segunda vez, com um sentimento de culpa martelando em minha cabeça, a luz da minha cozinha se acendeu. Incrédulo, fui correndo para a janela para ver se via algum sinal de que o apagão tinha chegado ao fim. Não conseguia acreditar no que via. ESCURO, estava tudo escuro, um breu danado, exceto... pela luz minha cozinha. Olhei o fósforo que eu ainda segurava na mão, sacudi a cabeça, como se tentasse acordar de um sonho. Não poderia ser uma coincidência. Afinal, que tipo de fósforo é esse?
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